A espera foi longa, mas o retorno a uma grande competição superou as melhores expetativas dos adeptos do País de Gales. 58 anos após a participação na única fase final de uma Copa do Mundo em sua história, o País de Gales foi protagonista de uma campanha sensacional na Eurocopa 2016 que culminou com a eliminação nas semis, às mãos da seleção portuguesa que acabaria erguendo o troféu. Cinco anos depois, Bale e Ramsey estão longe do auge, mas continuam a ser os principais rostos de um time que conta com algumas novidades e que será escolhido por Robert Page, substituto de Ryan Giggs, suspenso pela Federação na sequência de acusações por violência domêstica. Os “Dragões Galeses” querem continuar escrevendo sua história no futebol do “Velho Continente”. Inserido no grupo A junto com Itália, Turquia e Suíça, os galeses acreditam que é possível alcançar o “mata-mata”.

Para contar aos netos

Você sabia que o País de Gales tem um importante cruzamento histórico com a seleção brasileira? É verdade. A Copa do Mundo de 1958 se disputou na Suécia e foi nesse país do norte da Europa que a “Canarinha” se iniciou na senda dos títulos ao conquistar os primeiros dos cinco títulos mundiais que atualmente possui. Apurado a partir do grupo 4 junto com a União Soviética, o Brasil chegou nas quartas e marcou encontro com o País de Gales no Nya Ullevi Stadion, em Goteborg. Aos 21 minutos do segundo tempo, Pelé bateu o guardião galês Jack Kelsey e atirou a contar, sentenciando o desafio. A equipe brasileira seguiria seu caminho e acabaria por erguer o troféu após bater a Suécia na decisão, ao passo que o País de Gales se despediria por bastante tempo dos grandes palcos naquele dia, em Goteborg. Seus torcedores tiveram que aguardar 58 anos para voltar a ver a equipe galesa em uma fase final de grande competição, mas a espera valeu bem a pena.

A estreia na Eurocopa 2016 correu de feição ao País de Gales. Gareth Bale, “porta estandarte” dos galeses, inaugurou o marcador no embate com a Eslováquia na conversão de um livre. Ondrej Duda empatou por volta do minuto 16 do segundo tempo e o selecionador Chris Coleman se viu forçado a recorrer ao banco de reservas. A nove minutos do apito final, Hal Robson-Kanu, atacante que tem feito carreira no West Bromwich Albion deu a vitória ao time galês, assinando assim a primeira vitória em toda a história do país na fase final de uma Eurocopa. Já na segunda rodada dos grupos, os galeses entraram em campo para a disputa do desafio mais aguardado de todos, frente à vizinha Inglaterra. Bale voltou a adiantar o País de Gales no placard ainda no primeiro tempo, mas se Coleman tinha ganho o encontro anterior ao lançar Robson-Kanu, nesse embate, foi o selecionador inglês Roy Hogdson quem jogou os “ases”: Jamie Vardy e Daniel Sturridge entraram para o segundo tempo e foram responsáveis pelos gols que deram o triunfo aos “Three Lions”, o segundo, de Sturridge, já nos acréscimos. A derrota frente aos ingleses não abalou a moral dos galeses que na última ronda se superiorizaram à Rússia de forma clara (3-0) e, imagine, acabaram vencendo o grupo! Estava dado o mote para uma campanha de sonho que prosseguiu com um triunfo por uma bola a zero frente à Irlanda do Norte (a seleção de Will Grigg, o homem que estava sempre “on fire”, lembra dele?) graças a um gol contra e a surpresa das surpresas estava reservada para as quartas. Frente aquela que é muito provavelmente a melhor geração da história do futebol belga, o País de Gales até entrou a perder, mas teve a capacidade de reagir, correr atrás do placard e acabou mesmo vencendo com gols de Ashley Williams, Robson-Kanu e Sam Vokes, protagonizando assim o momento de maior brilhantismo na história do seu futebol até os dias de hoje. O percurso galês terminaria nas semis com uma derrota por dois a zero frente à seleção de Portugal que se viria a sagrar campeã da Europa. Agora, o País de Gales quer voltar a contrariar as probabilidades definidas pelas Casas de Apostas e chegar bem longe na prova.

País de Gales na Eurocopa 2020

Ryan Giggs foi apresentado como novo selecionador do País de Gales em janeiro de 2018, após o time ter falhado a classificação para a Copa do Mundo 2018. Em sua apresentação, a lenda do Manchester United apontou o acesso à Eurocopa 2020 como principal objetivo, sem negligenciar a participação na Liga das Nações da UEFA. A 16 de novembro de 2019, na Bakcell Arena, em Baku, o País de Gales triunfou e assegurou logo aí o acesso aos grupos dessa Eurocopa. As efusivas celebrações dos jogadores galeses acabaram sendo amplificadas pelas polêmica bandeira exibida pelos jogadores: “Wales. Golf. Madrid. In that order”, em alusão a Gareth Bale, aparentemente mais preocupado em defender as cores da sua seleção e com os jogos de golf que em render tanto quanto deveria no Real Madrid. Contas feitas, o País de Gales terminou no segundo lugar do grupo E com quatro vitórias, dois empates e duas derrotas, com menos três pontos que a Croácia, mais um que a Eslováquia, mais dois que a Hungria e mais 13 que o Azerbaijão.

Acusado formalmente em abril desse ano por agressão a duas mulheres, Ryan Giggs deixou o comando da seleção do País de Gales, perdendo assim a oportunidade de guiar o time na fase final dessa Eurocopa 2020. Na sequência da decisão de demitir Giggs, a FAW (Federação Galesa) comunicou que Robert Page (adjunto de Giggs) se encarregará de guiar o time, auxiliado por Albert Stuivenberg. E o que se sabe sobre Page? Natural de Llwynypia, no País de Gales, Robert Page fez carreira em alguns times ingleses, entre os quais Watford, Sheffield United, Coventry City, Huddersfield Town e Chesterfield, além de uma passagem fugaz pelo Cardiff do seu país de origem. Encerrou sua carreira de jogador em 2010/11 e iniciou a de treinador na época 2013/14, permanecendo três temporadas ao serviço do Port Vale. Em 2016/17 rumou ao Northampton Town e a ligação às seleções galesas se iniciou em 2017/18, ao serviço da seleção sub-21.

As circunstâncias fizeram com que “Rob” Page assumisse o comando da seleção nesse Euro 2020. Sua experiência enquanto técnico principal não é tão vasta quanto isso e seu histórico como jogador não está nem perto do de Ryan Giggs, perspetivando-se no entanto que dê continuidade ao trabalho que Giggs vinha realizando. Page deverá ser fiel ao que Giggs vinha preconizando, bem como ao estilo galês.

Para além da classificação para a Eurocopa 2020, o País de Gales também assegurou o acesso à zona A da Liga das Nações da UEFA.

 Estrelas que querem continuar a brilhar

Hoje como há cinco anos atrás, Gareth Bale e Aaron Ramsey continuam a ser os dois principais destaques desta geração galesa. Bale está longe do seu auge, mas continua a desempenhar um papel fulcral na sua seleção e boa parte das hipóteses desta seleção galesa dependem daquilo que Bale consiga fazer. O melhor  marcador da história da seleção galesa esteve emprestado ao Tottenham durante a presente época e, depois de um início conturbado, a verdade é que acabou por ser bastante útil aos “Spurs” em alguns jogos. Aos 31 anos, Bale não está acabado e já demonstrou que é tudo uma questão de foco. Há muito que o galês se encontrava em uma posição delicada em Madrid esses meses em Madrid poderão ter devolvido alguma alegria ao seu jogo. Ao serviço da sua nação, motivação não faltará a Bale que será peça fundamental nessa Eurocopa 2020. Os galeses integram o Grupo A junto com Itália, Turquia e Suíça.

O talento de Aaron Ramsey é indiscutível, sua preponderância neste período glorioso da seleção do País de Gales também, mas se trata de um jogador que, por uma ou outra circunstância, talvez nunca tenha atingido o nível esperado. Desde que deixou o Arsenal para rumar à Juventus, Aaron Ramsey foi tendo seus bons momentos a espaços, mas nunca se afirmou propriamente como um indiscutível tanto para Maurizio Sarri quanto para Andrea Pirlo. Umas vezes mais por dentro, outras mais por fora, o “box-to-box” que é produto da base do Cardiff é um jogador muito útil e terá que desempenhar um papel muito importante nessa Eurocopa 2020 por forma a aumentar as chances de sucesso da sua seleção.  Sua época em Itália não foi particularmente feliz, mas Ramsey quer deixar isso para trás das costas, perspetivando-se que atue mais em zona interior nesse sistema de 1x3x4x3 preconizado por Page.

Liderados por Bale, Ramsey e Bem Davies, provavelmente os três elementos mais mediáticos, a seleção galesa se apresentará com algumas novidades em suas fileiras – e bem prometedoras, por sinal. No eixo defensivo, coadjuvado por Davies, Joe Rodon deverá ser chamado à responsabilidade. O jovem defesa se transferiu nessa época do Swansea City para o Tottenham, tem sido opção nos “Spurs” e conta com 12 internacionalizações pelo País de Gales, tendo sido totalista nos últimos quatro jogos da seleção do País de Gales na Liga das Nações da UEFA. Mais à frente, podendo funcionar em um duplo pivot com Ramsey, estará Ethan Ampadu. O jogador de apenas 20 anos que é propriedade do Chelsea nasceu em Eeter, na Inglaterra, sendo que estava elegível para as seleções de Inglaterra, República da Irlanda, Gana – filho de pai ganês que foi internacional irlandês – e País de Gales (mãe galesa), mas optou por representar o País de Gales quando, com apenas 16 anos, foi chamado à seleção principal. Ampadu esteve parte da época passada ao serviço do RB Leizpig (jogou pouco mas enriqueceu sua “bagagem” futebolística) e nessa temporada atuou ao serviço do relegado Sheffield United, ganhando experiência na Premier League. Nessa Eurocopa 2020, deverá ser opção de Page para montar o setor intermediário.

Por fim, aquele que é certamente o mais mediático jogador da nova geração galesa. Daniel James se mudou do Swansea para o Manchester United em 2019/20 e logo nessa época cumpriu 46 jogos com a camisa dos “Red Devils”. Nessa temporada 2020/21 não foi opção em tantas ocasiões para Ole Gunnar Solskjaer, mas o técnico norueguês não deixa de o considerar uma opção válida e se prepara para ser chamado e ultrapassar as 20 internacionalizações ao serviço de sua nação de origem.

Recordes do País de Gales na Eurocopa

Dado que a única participação galesa na fase final de uma Eurocopa data de 2016, sua história  na competição é bastante reduzida. Gareth Bale, melhor marcador da história da seleção, é o jogador com mais gols em fases finais, dado que apontou três nos gramados franceses, seguido de Hal Robson-Kanu, com dois – o atacante do WBA já não deverá ser chamado para essa Eurocopa, com Bale, Brooks, Tyler Roberts, Harry Wilson, Matondo, Moore e Daniel James a serem os liderarem as escolhas. Bale é, simultaneamente, um dos jogadores com mais jgoos em fases finais, dado que participou dos seis encontros no Euro 2016. Aí, Aaron Ramsey perde para Bale, dado que acabou falhando a semi com Portugal devido a uma suspensão.

Antes de iniciar sua participação na Eurocopa 2020, a seleção do País de Gales vai disputar dois amistosos de preparação. A 2 de junho defrontará a campeã do mundo França, ao passo que, cinco dias depois, tem embate agendado com a Albânia.

Boas apostas!