23 anos depois, a seleção da Escócia está de volta à fase final de uma grande competição. David Marshall negou o gol de pênalti a Aleksandr Mitrovic no decisivo duelo do “play-off”, em Belgrado, se convertendo assim em um herói nacional. Os escoceses não são tidos como favoritos ao acesso à fase a eliminar, mas a possibilidade de disputarem dois dos três jogos em seus domínios é um fator que pode ser importante na campanha da “Tartan Army” nessa Eurocopa 2020.
A seleção escocesa terminou na terceira posição da sua chave nas eliminatórias para essa fase final da Eurocopa 2020 e falhou o apuramento de modo convencional, mas tirou o melhor partido da oportunidade conseguida através do “play-off” da Liga das Nações da UEFA. Apesar de ter ficado no terceiro posto do grupo I de apuramento, atrás de Bélgica e Rússia, a seleção escocesa foi agraciada com a possibilidade de alcançar uma vaga por outra via. Mesmo tendo terminado na segunda colocação de uma das chaves da zona C da Liga das Nações, a República Tcheca estava já apurada para a Eurocopa 2020 e assim permitiu que fosse a equipe escocesa a discutir uma vaga com os líderes dos restantes grupos. Assim, na semi do “play-off”, a Escócia começou por se impor a Israel, levando a melhor na decisão através de pênaltis por 5-3. Dado que a Sérvia bateu a Noruega na outra semi, uma das últimas vagas na fase de grupos da Eurocopa seria discutida precisamente com o time dos Balcãs, em Belgrado. As probabilidades das Casas de Apostas jogavam a favor da Sérvia, mas tal e qual como na semi, a Escócia se superiorizaria nos pênaltis. No relvado do mítico Marakana, Ryan Christie deu vantagem aos escoceses aos sete minutos do segundo tempo e deixou toda uma nação a sonhar com a classificação. Luka Jovic empatou para os sérvios ao minuto 90 e a decisão foi para o tempo extra. Sem gols na prorrogação, tudo se decidiria novamente nos pênaltis para a equipe da Escócia. Aí, David Marshall negou o gol a Aleksandr Mitrovic na quinta grande penalidade e soltou a festas de toda uma nação que não marcava presença na fase final de uma Eurocopa desde 1996 (Inglaterra) e estava ausente de grandes competições desde a Copa do Mundo 1998. A ausência foi demasiado longa e os escoceses querem agora demonstrar que a parca experiência em fases finais ao longo dos últimos anos não lhes retira competitividade nem a ambição de estar na etapa a eliminar da Eurocopa, nem que seja como uma das melhores terceiras colocadas da primeira fase.
Na última ocasião em que a Escócia esteve na fase final de uma grande competição, três dos jogadores que estão entre as escolhas de Steve Clarke para essa Eurocopa 2020 nem sequer eram nascidos.
Steve Clarke, o timoneiro da Escócia
A seleção da Escócia iniciou a etapa de apuramento para a Eurocopa 2020 sob as ordens de Alex McLeish, mas a pesada derrota no Cazaquistão, logo na ronda inaugural, ditou o fim da ligação do selecionador à “Tartan Army”. McLeish ainda orientou a Escócia no segundo encontro dessa dupla jornada de apuramento disputada em março de 2019, mas se despediu de seguida para dar lugar a Steve Clarke, técnico que orientou o time pela primeira vez nesse apuramento a 8 de junho de 2019, em um encontro épico no Hampden Park: em noite de receção ao Chipre, os escoceses se deixaram empatar a três minutos do final do segundo tempo, mas Oliver Burke fez o 2-1 mesmo “ao cair do pano”. A partir daí, apesar de não ter contrariado o favoritismo de Bélgica e Rússia nos grupos, Clarke encontrou o caminho para a Eurocopa através da Liga das Nações.
Natural de Saltcoats, Steve Clarke dedicou toda sua carreira a dois clubes: os escoceses do St. Mirren e os ingleses do Chelsea. O ex-zagueiro se despediu dos gramados na época 1997/98 ao serviço dos “Blues” e em 2004/05 retornou como técnico adjunto. Trabalharia com Mourinho no Chelsea, Dalglish no Liverpool e Zola no West Ham, assumindo funções de técnico principal pela primeira vez no West Bromwich Albion, corria a temporada 2012/12. Após deixaria o The Hawthorns, seguiu para Reading e ainda passou por Birmingham como adjunto, ao serviço do Villa, antes de retornar à Escócia. Na época 2018/19 apurou o Kilmarnock para as competições europeias e em 2019 se tornou selecionador escocês.
Sistema escocês
A seleção escocesa já atuou em diferentes esquemas desde que Steve Clarke assumiu o comando. Nos últimos jogos da Liga das Nações, os escoceses atuaram a partir de um 1x3x4x3 e se a escolha não foi tão surpreendente quanto isso atendendo à vontade de Clarke potenciar as qualidades dos seus flanqueadores, por outro lado, o recuo de McTominay para o trio mais baixo acabou por ser surpreendente. Mais tarde, Clarke revelou que McTominay se sente confortável na posição e é claro que o sistema não é algo de estático e as dinâmicas estão trabalhadas para permitir subidas de McTominay para ações combinativas com os homens do meio como McGregor ou McGinn. Clarke afirmou mesmo em entrevista à mídia britânica que os próprios jogadores defenderam a utilização desse sistema com três defesas para os encontros do “play-off” ante Israel e Sérvia. Dado que o time se sente confortável com isso, não será surpreendente que os escoceses assim se apresentem na Eurocopa. Frente ao goleiro Marshall, a tendência é para que McTominay, Hanley e Tierney formem o trio. Na meia, McGregor e McGinn estarão em posição mais central, com Robertson e O’Donnell pelos corredores. A presença de Tierney e Robertson pela esquerda faz com que esse seja provavelmente o lado mais forte desse time escocês. Na frente, Christie, Fraser e Adams vão ser os eleitos.
Escócia na Eurocopa 2020
A Escócia integra o grupo C da Eurocopa 2020 junto com Inglaterra, Croácia e República Tcheca. Os ingleses são apontados como favoritos a erguer o troféu e, como tal, são também apontados como favoritos a terminar no primeiro posto desse grupo D. Em uma segunda posição em termos de favoritismo surge a Croácia, vice-campeã do mundo em 2018 que dificilmente surpreenderá como há três anos atrás, mas que tem todas as condições para estar na fase a eliminar da Eurocopa. Entre escoceses e tchecos, a briga será acirrada. Curiosamente, essas duas seleções se defrontaram por duas vezes em 2020 para a Liga das Nações. A Escócia foi vencer a Praga por duas bolas a uma e também triunfou em casa por um a zero. Ainda que possamos reconhecer algum favoritismo escocês nesse jogo, a briga será bem dividida e os três pontos podem cair para qualquer dos dois lados. Por outro lado, o facto de ter dois jogos em Hampden Park, como já referimos, é algo que deve ter em conta em seus prognósticos em futebol e que beneficiará os escoceses, empenhados em deixar uma boa imagem nessa fase final depois de uma ausência tão longa.
Recordes da Escócia na Eurocopa
A Escócia pôs fim a uma ausência bastante longa ao assegurar sua terceira presença em fases finais da Eurocopa, depois de não ter ido além da fase de grupos da competição tanto em 1992 quanto em 1996. Na Eurocopa da Inglaterra, a equipe escocesa esteve bem perto da próxima fase, falhando apenas o acesso às quartas por conta de ter marcado menos gols que a Holanda, adversária com a qual tinha terminado em igualdade pontual.
Stuart McCall, Gary McAllister e Andy Goram são os escoceses com mais jogos em fases finais da Eurocopa (6), que é o mesmo que dizer que estiveram em todos os encontros disputados pela sua nação na prova até hoje. Nenhum escocês conseguiu fazer mais que um gol na prova.
Boas apostas!