A grande prestação na Copa do Mundo da Rússia aumenta a expetativa da torcida croata para essa Eurocopa 2020, mas as diferenças podem ser mais do que aquelas que um intervalo temporal de apenas três anos permitia antever. Entre retiradas e jogadores que já estão vivendo períodos de menor fulgor,  a equipe croata terá dificuldades para exibir o nível de outrora, até porque está atravessando um período de renovação. O próprio selecionador Zlatko Dalic tem procurado gerir a expetativa nas semanas que antecedem a participação na competição, não deixando no entanto de assumir que o apuramento para a fase a eliminar tem que ser um objetivo para os seus eleitos.

Presença assídua em fases finais da Eurocopa enquanto nação independente desde 1996, a seleção croata nunca foi além das quartas da prova. Em 2016, se ficou pelas oitavas após perder com a congénere de Portugal no tempo extra, valendo lembrar que os portugueses viriam a erguer o troféu após derrotarem a França no Stade de France.

O caminho da Croácia para a Eurocopa

A seleção da Croácia carimbou o passaporte para a fase final dessa Eurocopa 2020 de modo categórico ao vencer o grupo E. Nas eliminatórias europeias se classificam os dois primeiros colocados de cada chave, mas esse grupo E acabou tendo uma particularidade: quatro das cinco seleções que estiveram a concurso acabaram apuradas para a fase final. Como? Através da porta de entrada para a Eurocopa que o “play-off” da Liga das Nações da UEFA representa. Assim, além da Croácia e do País de Gales, duas primeiras colocadas, também as congéneres da Eslováquia e da Hungria conseguiram carimbar as respetivas vagas na fase final.

Os croatas triunfaram na chave com 17 pontos em 24 possíveis, resultado de cinco triunfos, dois empates e um desaire. Os “Vatreni” terminaram com o melhor registo ofensivo do grupo (17 gols marcados) e sofreram sete. O único desaire sofrido pela Croácia nessa etapa de apuramento aconteceu em março de 2019, na Hungria, por duas bolas a uma.

Foto: “Franck Fife/AFP/Getty”

Considerando apenas o desempenho da seleção croata enquanto nação independente, após a dissolução da Iugoslávia, a equipe tem dois grandes momentos, ambos em Copas do Mundo: o 3º lugar conquistado em 1998 na França e o vice-campeonato volvidos 20 anos, na Rússia. Já em fases finais da Eurocopa, de 1996 (primeira participação) até os dias de hoje, os croatas só não participaram da edição de 2000 que decorreu na Bélgica e na Holanda, mas estiveram em Portugal (2004), na Áustria e na Suíça (2008), na Polônia e na Ucrânia (2012) e na França (2016). O melhor desempenho, como já referimos, foi a chegada nas quartas no ano de 2008. A ida à fase a eliminar na presente edição da prova é, do nosso ponto e vista, um objetivo bem ao alcance dessa seleção.

Zlatko Dalic

O selecionador Zlatko Dalic assumiu os destinos da seleção croata em 2017, contratação que não gerou grande expectativa no imediato. O técnico natural de Livno iniciou a sua carreira no Varazdin em 2005/06, clube que também tinha representado enquanto jogador, passando posteriormente por Rijeka, Dinamo Tirana e Slaven Belupo antes de rumar à Ásia. Na Arábia Saudita representou Al-Faisaly (duas épocas) e Al-Hilal, antes de rumar ao Al Ain na época 2013/14. Por lá enriqueceu seu palmarés (que até então contava apenas com uma Supercopa albanesa) e os responsáveis da Federação croata decidiram avançar para a contratação dos seus serviços. Na primeira “prova de fogo”, a Copa do Mundo 2018, Dalic não desiludiu. A Croácia chegou na primeira final da sua história enquanto nação independente e está claro que o selecionador ganhou imenso crédito em virtude do feito alcançado. O segundo grande objetivo também foi cumprido com a garantia do apuramento para essa Eurocopa 2020 e, na Liga das Nações da UEFA, os croatas continuam se debatendo entre a elite. Na Croácia, Dalic é visto como um bom condutor de homens e os resultados têm satisfatórios. Sempre que aborda a participação da sua equipe no Euro 2020, Dali tem privilegiado um discurso cauteloso, dizendo que o êxito de 2018 não pode fazer com que as expetativas para essa Eurocopa se tornem irrealistas. Ainda assim, mesmo deixando elogios aos adversários que consigo partilham a chave, afirma que o acesso à fase a eliminar é naturalmente um objetivo para a sua Croácia.

Croácia após o êxito de 2018

A prestação da Croácia na Copa do Mundo 2018 superou as expetativas e o estatuto de vice-campeã mundial aumenta a responsabilidade na hora de encarar essa Eurocopa 2020. Três anos se passaram desde o êxito e se consideramos a idade da maioria dos jogadores que desempenharam papéis fundamentais na Copa da Rússia, está claro que teremos aqui uma equipe necessariamente com algumas mudanças. Ivan Rakitic, unidade fundamental, já não consta entre os eleitos para essa Eurocopa, mas seus companheiros Brozovic e Modric deverão permanecer entre os titulares e acompanhados por outro jogador de grande nível: Mateo Kovacic, campeão da Europa com a camisa do Chelsea. O guardião Subasic também já deixou a equipe nacional e Livakovic estará na defesa das redes, ao passo que nas laterais, ao invés de Strinic à esquerda, a tendência é que Barisic seja o titular Para montar o ataque, Dalic dispõe de diferentes soluções. Ao centro, Kramaric, Petkovic e Budimir são opções, mas não está descartada a hipótese de privilegiar um recurso diferente com Mario Pasalic na posição. Para as alas, Perisic e Rebic continuam a ser opções muito válidas, importando não esquecer as qualidades de Mislav Orsic, jovem que vem despontando no Dínamo Zagreb e quer ser uma das revelações dessa Eurocopa. Apesar de tudo, em 2021 como em 2018, as chances desse time croata dependerão muito daquilo que Luka Modric conseguir fazer, sendo que contará com um apoio fundamental na meia, o de Kovacic.

Croácia na Eurocopa 2020

A seleção da Croácia até esteve bem nas eliminatórias de classificação para essa Eurocopa 2020, mas essas oito partidas foram todas disputadas entre os meses de março e novembro de 2019, no período pré-pandemia, já faz um tempo. Nos encontros posteriores da Liga das Nações, assim como em alguns amistosos, as prestações da equipe não impressionaram pela positiva, mas a fase final da Eurocopa 2020 é um contexto totalmente diferente e essa Croácia reúne vários jogadores habituados a contextos de decisão, tanto a nível de clubes quanto de seleções. Nesse grupo D composto por Inglaterra, Escócia, Croácia e República Tcheca, os “Three Lions” partem como favoritos à vitória na chave, segundo as principais Casas de Apostas. A seguir aos ingleses, os croatas têm que ser tidos como os maiores candidatos a avançar, mas terão que lidar com uma contrariedade: é que a Croácia vai defrontar a Inglaterra no Wembley (Londres) e a Escócia no Hampden Park (Glasgow). Apesar de disputar esses dois desafios fora de portas, estamos em crer que a Croácia terá a capacidade de cumprir com seu objetivo e se apurar para o “mata-mata”.

Histórico da Croácia na Eurocopa

Duas presenças nas quartas, uma nas oitavas e duas eliminações na fase de grupos. A Croácia se prepara para cumprir aquela que será sua sexta presença na fase final da uma Eurocopa, mas nunca conseguiu ir além das quartas. Em 1996, perdeu para a Alemanha (2-1), nação que viria a conquistar o troféu na Inglaterra ao derrotar a República Tcheca na decisão. Em 2012, acabou perdendo para a Turquia na decisão através de penâltis, enquanto em 2016 foi já no tempo extra que perdeu para Portugal.

Darijo Srna é o jogador croata com mais jogos em fases finais de Eurocopas, ao passo que Mario Mandzukic e Davor Suker partilham o estatuto de melhores marcadores, com três golos cada. Já Luka Modric fez gols em duas edições do torneio (2008 e 2016) e quer voltar a fazer estragos em 2020.