Uma Laranja que quer voltar a ser mecânica. Os tempos áureos da seleção da Holanda parecem corresponder a uma memória bem distante. Apesar de sua rica história futebolística ao longo da qual revelou vários craques e técnicos progressistas, a realidade é que a Holanda tem estado afastada dos grandes palcos do futebol europeu e mundial nos últimos anos. A equipe laranja não se classificou para Eurocopa de 2016 disputada na França e, há três anos atrás, também falhou o apuramento para a Copa do Mundo 2018. A disputa dessa Eurocopa 2020 dita o retorno aos grandes palcos volvidos seis anos, dado que a Holanda não participa de uma grande competição desde a Copa do Mundo 2014. Já para recuarmos à última ocasião em que esta nação pôde celebrar uma vitória na fase final de uma Eurocopa precisamos recuar a 2008, uma vez que a participação na fase de grupos na edição de 2012, disputada na Polônia e na Ucrânia, culminou com três desaires.

As prestações recentes em fases finais da Eurocopa não têm sido particularmente felizes, mas os neerlandeses já ergueram o troféu de seleções mais importante de todo o continente. Na Alemanha, em 1988, a seleção da Holanda festejou a conquista da prova. Quatro anos depois, na Suécia, foi terceira (já o tinha sido na Jugoslávia, em 1976) e na competição organizada em casa juntamente com a Bélgica também. Já em 2004, fez terceiro no Euro 2004 disputado em Portugal, chegando nas quartas passados quatro anos, na Áustria e na Suíça. Ao falhar a Eurocopa 2016, os Países Baixos tornaram a não estar na fase final de uma Eurocopa volvidos dez anos.

Foto: “AFP via Getty Images”

A seleção dos Países Baixos voltou aos bons resultados sob a égide de Ronald Koeman (hoje no Barcelona), alcançando mesmo a final da Liga das Nações, decisão em que acabaria derrotada por Portugal.  Toda a classificação para essa Eurocopa 2020 ainda foi feita sob a égide de Ronald Koeman, sendo que os neerlandeses terminaram no segundo posto do grupo C com 19 pontos conquistados em oito desafios (seis vitórias, um empate e uma derrota), apontando 24 gols e sofrendo sete no processo. A Alemanha venceu a chave com dois pontos de vantagem em relação aos Países Baixos e para trás ficaram Irlanda do Norte, Bielorrússia e Estónia. Assim que Koeman rumou à “Cidade Condal” para assumir os destinos do Barcelona, uma ex-glória do futebol neerlandês foi eleita para orientar o time: Frank de Boer, técnico que estava ao serviço dos estadounidenses do Atlanta United. Vale lembrar que Frank de Boer já tinha desempenhando funções na seleção, mas enquanto adjunto. A experiência de Frank de Boer no comando da Holanda é ainda bastante curta. Nesse ano civil de 2021, antes do estágio de preparação para a Eurocopa e dos encontros amistosos, só tinham orientado o time em três encontros, todos válidos pela classificação para a Copa do Mundo 2022. O ciclo de apuramento começou com um desaire por quatro bolas a duas frente à Turquia, confirmando de seguida seu favoritismo tanto diante da Letônia (2-0) quanto da equipe de Gibraltar (0-7).

Atendendo ao pouco tempo de trabalho com o time, essa etapa de preparação para a Eurocopa será bem importante para Frank de Boer.

Frank de Boer

Detentor de um palmarés invejável enquanto treinador, Frank de Boer é o responsável por devolver à seleção neerlandesa aos dias de glória. Produto da base do Ajax, foi no clube de Amesterdão que passou boa parte da sua carreira, antes de se mudar para Barcelona a meio da temporada 1998/99 para enriquecer seu palmarés de forma bem significativa. Esteve ao serviço do time “Culé” durante quatro épocas e meia e posteriormente rumou ao Galatsaray para uma passagem fugaz. Representaria ainda os escoceses do Rangers, antes de encerrarseu percurso no Qatar, primeiro com o Al-Rayyan, depois com Al-Shamal. Após a Eurocopa, a missão de Frank de Boer passará precisamente por guiar à equipe neerlandesa à Copa do Mundo que se vai realizar em solo “qatari”.

Enquanto treinador, De Boer passou pela base do Ajax, teve também uma passagem anterior por essa seleção enquanto técnico adjunto e estaria cinco temporadas completas ao serviço de seus “Godenzonen”. Posteriormente teria uma passagem bem fugaz tanto pelos italianos do Inter quanto pelos ingleses do Crystal Palace. Em 2019 rumou aos Estados Unidos para orientar o Atlanta United em sua última incursão de clubes antes de retornar ao país de origem para suceder a Ronald Koeman e assumir os destinos da seleção. Enquanto jogador, esteve nas Eurocopas de 92, 2000 e 2004 (os Países Baixos falharam o acesso em 96), assim como nas Copas do Mundo de 1994 e 1998. A Eurocopa 2020 corresponde ao primeiro grande torneio enquanto técnico principal da seleção holandesa, isso não considerando a Liga das Nações da UEFA.

Pese embora a curta amostra, está claro que estamos perante uma equipe dos Países Baixos que será bem fiel a seus princípios e matrizes de jogo.

Van Dijk, a grande ausência

A maioria dos melhores jogadores da história do futebol neerlandês atuavam da meia para frente, consequência do estilo bem vincado e marcadamente ofensivo que é o da escola daquela nação – curiosamente, Frank de Boer, atual selecionador, atuava de zagueiro. Não obstante, um dos melhores jogadores que a nação deu a conhecer nos últimos anos (sucessor de Robben e Sneijder em termos de destaque mediático) é Virgil Van Dijk, o zagueiro do Liverpool que esteve perto de arrebatar o tão desejado Ballon D’Or. Van Dijk é figura e líder dessa seleção, mas uma lesão com enorme gravidade, contraída em outubro, lhe retirou a oportunidade de marcar presença nessa fase final da Eurocopa. A ausência de Virgil Van Dijk é obviamente importante para a equipe neerlandesa que desse modo sai enfraquecida e não tem como contornar ou contrariar essa ideia. Assim, a tendência é a de que Matthijs De Ligt – um dos bons jogadores na nova geração holandesa – e Stefan de Vrij assume o eixo de uma zaga a quatro, com Denzel Dumfries pela direita e Patrick Van Aanholt à esquerda. Jasper Cillessen seria o titular em condições normais, mas o jogador testou positivo à COVID-19 e por isso falhará a Eurocopa. Assim, a expetativa é a de que Tim Krul acabe por assumir a titularidade.

Desde que De Boer assumiu os destinos da seleção neerlandesa, a tendência tem sido para ver a equipe atuando em um sistema próximo de um 1x4x2x3x1. No que ao estilo e dinâmicas respeita, está claro que está subjacente uma ideia marcadamente vertical, privilegiando sempre um futebol ofensivo, sempre de olhos postos na baliza contrária. O grande desafio de De Boer passa, claro, por encontrar um equilíbrio de uma equipa bem “apetrechada” e trabalhada à frente que, no entanto, sofre demasiados golos. Os neerlandeses têm várias soluções para montar a meia. A tendência é a de que Frenkie de Jong e Wijnaldum sejam titulares, restando perceber quem será a terceira peça. Diríamos que a duvida estará entre Ryan Gravenberch e Davy Klaassen, dois jogadores que oferecem coisas diferentes ao jogo e cuja opção por um ou outro dependerá muito da forma como De Boer pretender montar e meia e seu duplo pivot. Não é de todo descabido que De Jong e Wijnaldum funcionem em duplo pivot com Klaassen mais solto. Donny van de Beek, muito pouco utilizado em Manchester nessa época, dificilmente iniciará a Eurocopa como titular. No ataque, pela esquerda, azo à criatividade daquela que é a principal figura dessa seleção: Memphis Depay, atacante do Lyon. No lado contrário, Steevem Berghuis poderá assumir, ao passo que ao centro, De Boer tem três soluções válidas: Luuk de Jong, Wout Weghorst – fez uma grande temporada no Wolfsburgo – e o “wonderkid” Donyell Malen, atacante que quer ter sua oportunidade para apresentar suas qualidades ao grande público e que oferece algo diferente ao jogo comparativamente tanto a Weghorst quando a De Jong. Há talento mais que suficiente para apontar a vitórias dessa seleção dos Países Baixos em seus prognósticos para apostas.

Países Baixos na Eurocopa 2020

A seleção dos Países Baixos tem todos os motivos para acreditar que é possível superar a primeira fase da Eurocopa. O time neerlandês “caiu” no grupo C junto com Ucrânia, Áustria e Macedônia do Norte e é tido como principal favorito à vitória na chave segundo as principais Casas de Apostas. Dado que parte à frente de qualquer um dos três adversários, seria um autêntico escândalo ver essa equipe holandesa se ficar pela fase de grupos. A presença nas oitavas parece um objetivo mais que ao alcance da equipe. A partir daí, tudo dependerá dos adversários que tiver pela frente, mas não consideramos a equipe holandesa uma das favoritas a erguer o troféu.

Histórico dos Países Baixos

O gol de Marco Van Basten na final da Eurocopa 1988 é um autêntico monumento. O famoso “volley” de Van Basten é um dos gols mais bonitos da história da competição e, simultaneamente, um dos mais importantes da história do futebol neerlandês, dado que permitiu selar o triunfo ante a União Soviética (2-0) e conquistar aquela que é, até os dias de hoje, a única Eurocopa dos Países Baixos. Nessa Eurocopa 2020, esta nação se preparará para participar de uma edição da prova pela 10ª vez, contabilizando, além do título de 88, três presenças em semis.

O goleiro Edwin Van der Sar é o jogador com mais jogos pelos Países Baixos em fases finais da Eurocopa. Patrick Kluivert e Ruud van Nistelrooy partilham o estatuto de melhor marcador neerlandês em fases finais da Eurocopa com seis gols cada.

Boas apostas!