Tem que assumir. A esta Bélgica já não chegam os rasgados elogios sobre suas qualidades individuais e coletivas. A melhor geração da história do futebol daquele país se pretende afirmar com a conquista de um título, pois só dessa forma poderá entrar na galeria dos imortais e confirmar esse estatuto. Erguer o troféu tem que ser um objetivo para os comandados de Roberto Martínez face às condições que reúnem.
Dois anos depois de ter rubricado a melhor prestação de sempre na fase final de uma Copa do Mundo ao terminar no terceiro lugar em solo russo, a seleção da Bélgica chega nessa Eurocopa 2020 empenhado em fazer o mesmo à escala continental. Para igualar, precisará “apenas” chegar na decisão, para bater o melhor registo, tem que vencer. Ainda que à época o modelo fosse bem diferente, a Bélgica foi vice n Eurocopa de 1980, disputada na Itália, em 1980. De 2000 para cá, participou na Eurocopa 2000 enquanto organizadora conjunta com a Holanda e não foi além da primeira fase, falhando as três fases finais seguintes: 2004 (Portugal), 2008 (Suíça e Áustria) e 2012 (Polônia e Ucrânia). A primeira fase final de Eurocopa para esta grande geração aconteceu em 2016, na França, mas é legítimo afirmar que a prestação belga acabou sendo uma desilusão. Após terminar sua chave com seis pontos, em igualdade com a líder Itália, a Bélgica eliminou a Hungria (0-4) e depois perdeu para o País de Gales (3-1) nas quartas, resultado que foi contra as probabilidades e contra aquilo que indiciava a maioria dos prognósticos em futebol.
A crítica não poupou a “ótima geração” belga que, volvidos dois anos, após um desempenho exemplar nas eliminatórias, voltou a se apurar para a fase final de uma grande competição. Aí, o desempenho foi bem melhor e a equipe conseguiu rubricar o melhor desempenho de toda sua história na fase final de uma competição: fechou sua chave com três vitórias em três jogos – grupo partilhado com Inglaterra, Tunísia e Panamá -, bateu o Japão nas oitavas (3-2), se impôs ao Brasil nas quartas (2-1) e só perdeu para a futura campeã França nas semis, pela margem mínima (1-0). No encontro “que ninguém quer disputar”, nomeadamente aquele que define o terceiro e quarto colocados da competição, a Bélgica repetiu o que já havia feito na fase de grupos e se superiorizou à Inglaterra por dois a zero. Agora, a Bélgica se apresenta nessa Eurocopa 2020 determinada em chegar na decisão e tornar a fazer história. As odds das Casas de Apostas colocam a formação orientada por Roberto Martínez entre os principais favoritos à vitória final.
A seleção belga já tinha rubricado uma prestação arrebatadora rumo à fase final da Copa do Mundo de 2018, disputada na Rússia, ao ter conquistado 28 pontos em 30 possíveis. O registo parecia difícil de bater, mas a Bélgica conseguiu mesmo fazê-lo nesse ciclo de apuramento para a Eurocopa 2020: somou nada mais nada menos que 30 pontos em outros tantos possíveis com uns incríveis 40 gols marcados em dez desafios e apenas três sofridos. Rússia, Escócia (duas seleções que vão marcar presença nesse Euro 2020), Chipre, Cazaquistão e San Marino foram as seleções que se atravessaram no caminho da Rússia nas eliminatórias.
A primeira Eurocopa sob a égide de Martínez
O espanhol Roberto Martínez assumiu os destinos da seleção belga após a Eurocopa de 2016, deixando o Everton para assumir os destinos da equipe flamenca. Para já, o desempenho sob as ordens de Martínez tem sido positivo, dado que os belgas estiveram em bom plano na única fase final disputada, a da Copa do Mundo 2018. O técnico espanhol tem potenciado e aproveitado todo o talento que a seleção sob suas ordens possui e pretende continuar a fazê-lo na fase final dessa Eurocopa 2020. O curriculum de Roberto Martínez pode não ser o mais entusiasmante com passagens por Swansea City, West Bromwich e Everton, mas suas equipes sempre privilegiaram um futebol atrativo, de posse, motivos pelo qual os responsáveis da Federação belga consideraram que Roberto Martínez seria a opção mais acertada para o cargo, por conta daquilo que poderia incutir em termos estratégicos à equipe, mesmo sem uma carreira enquanto técnico ou jogador de renome. Para lá disso, a fidelidade a um modelo de jogo ofensivo é algo que também está de acordo com aquilo que os belgas querem para seu jogo. Assim, neste Euro 2020, a expetativa é a de que Martínez faça sua Bélgica alinhar a partir de um 1x3x4x3 com qualidade na saída a partir de trás, capacidade explorar tanto por fora quanto por dentro e, na frente, um trio de luxo: Eden Hazard quer ser peça fundamental mesmo depois de mais uma equipa com mais baixos que altos em Madrid; De Bruyne tem tudo para se afirmar como melhor jogador da competição após uma grande temporada ao serviço do City e, no centro, a “besta” Romelu Lukaku vai atemorizar as defesas contrárias. Começando por trás, Courtois dá garantias e continua a ser um dos melhores (se não o melhor) guarda-redes do mundo, com Alderweireld, Denayer e Vertonghen oferecendo qualidade na saída. As alas deverão ficar a cargo de Meunier e Thorgan Hazard, ao passo que no centro vai ter um fortíssimo duplo pivô com Witsel e Tielemans. Entre o time que chegou na terceira colocação na Copa da Rússia e aquele que se vai apresentar nessa Eurocopa deverão existir poucas diferenças. Olhando para o time inicial expetável, Kompany e Chadli deverão ser as únicas peças a abandonar.
Bélgica na Eurocopa 2020
A seleção Bélgica tem que ser considerada favorita à vitória desse grupo B e é totalmente justo que integre o lote de nações favoritas à conquista da Eurocopa. O time eleito por Roberto Martínez reúne muita qualidade do ponto de vista individual, competência em todos os momentos defensivos com solidez atrás e muito virtuosismo na frente, pelo que a candidatura tem que ser uma realidade para esta equipe da Bélgica que quer fazer mais que na Eurocopa 2016, até porque tem uma autêntica “geração de ouro”. As chances da Bélgica no “mata-mata” dependerão muito daquilo que suas estrelas conseguirão fazer, sobretudo Kevin De Bruyne e Eden Hazard. Hierarquizar e definir em que lugar se situa essa Bélgica em termos de favoritismo é um exercício subjetivo, mas diríamos que essa Bélgica segue só atrás da França em termos de favoritismo à entrada para a competição. Restará ao time comprovar tudo isso nos gramados.
A Bélgica iniciará sua participação nessa Eurocopa 2020 a 12 de junho, logo no segundo dia de competição, defrontando a Rússia no estádio Krestovsky, em São Petersburgo. O segundo encontro será com a Dinamarca em Copenhaga, retornando depois ao Krestovsky para encerrar sua participação da fase de grupos ante a Finlândia. Esse será um “handicap” que a seleção belga terá que contrariar: o fato de disputar dois jogos na zona de conforto dos adversários.
Recordes da Bélgica na Eurocopa
A Bélgica participou de uma Eurocopa pela primeira vez atuando em seus domínios, corria o ano de 1972. À época, o torneio estava bem longe de ter a estrutura dos dias de hoje, contando com uma fase de classificação nos anos de 1970 e 1971 e uma fase final em 1972 com apenas quatro times envolvidos. Bélgica, Alemanha Ocidental, Hungria e União Soviética foram os quatro times envolvidos e os anfitriões acabaram por ser terceiros, após perderem para a Alemanha Ocidental nas semis e ganharem na Hungria no encontro de atribuição do 3º e 4º lugares.
O melhor desempenho belga até os dias de hoje em uma Eurocopa aconteceria volvidos oito anos, na Itália. Na final disputada no Olímpico de Roma, a Bélgica voltou a sair vergada pela Alemanha Ocidental, falhando a conquista do troféu. Os belgas ainda estariam no Euro 1984 mas falhariam as três edições seguintes, retornando apenas em 2000, enquanto anfitriões a par da Holanda, abandonando no entanto logo na primeira fase. Sem presenças em 2004, 2008 e 2012, foi graças ao trabalho da atual geração que a nação voltou ao maior palco do futebol europeu de seleções. A eliminação nas quartas da Eurocopa 2016 acabaria por corresponder a um desempenho demasiado modesto para essa geração de ouro que, volvidos cinco anos, volta a abordar a competição com as expetativas bem elevadas.
Jan Ceulemans, Jean-Marie Pfaff e René Vandereycken são os três jogadores com mais internacionalizações pela Bélgica em fases finais de uma Eurocopa. Já no que a golos diz respeito, Romelu Lukaku poderá se distanciar de Jan Ceulemans e Radja Nainggolan, jogadores que têm cada um dois gols apontados em Eurocopas. De resto, Lukaku, com 89 internacionalizações (57 gols) é o oitavo jogador com mais partidas disputadas com a camisa da Bélgica. Ao todo, os belgas apontaram 22 gols em suas cinco participações em Eurocopas.
Antes da estreia oficial na competição, a Bélgica tem dois amistosos de preparação em agenda. A 3 de junho, a Bélgica vai medir forças com a Grécia, seleção que falhou o acesso à fase final dessa Eurocopa. Três dias depois, a Bélgica vai ter um teste teoricamente mais exigente com a Croácia, nação que também está apurada para esta Eurocopa 2020 e que é a atual vice-campeã do mundo, após a derrota na final da Copa para a França.
Boas apostas!