É impossível falar na seleção danesa sem começar por recuar até o verão de 1992. A equipe do norte da Europa protagonizou um dos “Contos de Fadas” mais bonitas da história da Eurocopa, dado que passou de time não classificado a campeão da prova. Nessa Eurocopa 2020, a formação danesa vai cumprir sua nona presença em uma fase final, mas desta feita conseguiu mesmo ultrapassar seu grupo nas eliminatórias.
A voz de Bryan Adams eternizou o verão de 69, mas em solo danês, o verão mais famoso de todos continua a ser o de 1992. Nesse ano, a competição de seleções mais importante do continente se realizava na Suécia, território da maior rival futebolística da Dinamarca. O time danês tinha falhado o acesso à fase final da Eurocopa, mas a guerra na ex-Iugoslávia levou ao afastamento da seleção daquele país. A poucos dias do início da prova, a Dinamarca foi chamada para o torneio como “lucky loser” e a expetativa não era propriamente alta, até porque a Dinamarca tinha falhado a classificação depois de ter terminado a Eurocopa anterior com três derrotas em três jogos e de nem ter chegado na Copa do Mundo disputada na Itália. A boa prestação na fase de grupos da Copa do Mundo de 1986 era uma memória cada vez mais distante e a Dinamarca se tornava uma equipe que desiludia cada vez mais, tanto que os irmãos Laudrup renunciaram mesmo à seleção no início da fase de classificação para a Eurocopa 1992.
A relação da torcida e dos jogadores com o selecionador Richard Moller Nielsen (adjunto que havia sido efetivado) não era a melhor e as expetativas para a competição eram bastante baixas. Nielsen ainda tentou o retorno dos irmãos Laudrup à seleção, mas só Brian aceitou, com Michael, pouco depois de se ter sagrado campeão da Europa no Barça, a recusar-se a um retorno com Nielsen ao leme.
A Eurocopa era, à época, um torneio bem mais curto, composto por apenas dois grupos de quatro equipes. Espanha, seleção que tinha “esmagado” a Dinamarca seis anos antes na Copa do Mundo, figurava como grande ausente, tal e qual como a Itália, batida na classificação pela União Soviética. Ainda assim, as probabilidades jogavam todas contra a Dinamarca que nem teve um início de campanha auspicioso: a equipe de Nielsen empatou sem gols com a Inglaterra e de seguida perdeu por um a zero para a rival e anfitriã Suécia. Tudo indicava que a Dinamarca abandonaria a competição após o derradeiro encontro em Malmo, frente à França, mas foi aí que “a página virou”. Henrik Larsen deu vantagem à Dinamarca, Papin empatou e, a sensivelmente 12 minutos do fim, Lars Elstrup se converteu em herói nacional: fez o 2-1 para a Dinamarca e carimbou o passaporte para as semis. Contras todas as probabilidades, a Dinamarca estava a um encontro da final. Pela frente, teria a Holanda de Koeman, de Boer, Rijkaard, Gullit, van Basten ou Dennis Bergkamp, a autêntica “Laranja Mecânica” de Rinus Michels. Henrik Larsen inaugurou o placard em Gotemburgo, o intratável Bergkamp empatou mas Larsen recolocaria a Dinamarca na frente. Já na ponta final do desafio, Frank Rijkaard empatou e a decisão seguiria para os pênaltis. Aí, a Dinamarca foi mais forte e venceu por cinco a quatro. O “azarão” estava na final e o sonho a um pequeno passo de ser concretizado!
Atuando diante da Alemanha já unificada após a queda do Muro de Berlim, os daneses voltaram a ser mais fortes e ergueram o troféu pela primeira vez em toda a sua história. Faxe Jensen deu vantagem aos dinamarqueses ao minuto 19 e, aos 78, Kim Vilfort fez o dois a zero, deixando toda uma nação em transe perante um dos feitos futebolísticos mais improváveis da história do futebol mundial.
De 1992 para cá, a Dinamarca esteve em quatro das seis edições da Eurocopa que se disputaram. Na Inglaterra (1996), ainda com estatuto de campeã da Europa, caiu na primeira fase, sendo que quatro anos mais tarde não conseguiria fazer melhor, abandonando a Eurocopa que se jogou na Bélgica e na Holanda com três derrotas em três jogos, zero gols marcados e oito sofridos. Em Portugal (2004), a Dinamarca ainda chegaria nas quartas, ao passo que a última participação data da Eurocopa que se realizou na Polônia e na Ucrânia em 2012. Em 2008 (Áustria/Suíça) e 2016 (França), a Dinamarca não marcou presença. A segunda melhor prestação em uma fase final da Eurocopa aconteceu em 1984, quando a Dinamarca chegou nas semis da prova.
Novamente mais fortes que os irlandeses
A Dinamarca esteve pela última vez na fase final de uma grande competição na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, atingindo as oitavas da competição. Para viajar até o Leste europeu, a seleção danesa se viu obrigada a disputar o “play-off” de apuramento com a República da Irlanda, dado que terminou as eliminatórias como uma das melhores segundas colocadas. Na eliminatória decisiva com os irlandeses, após uma igualdade sem gols no Telia Parken, em Copenhaga, a Dinamarca foi “Dinamáquina” em Dublin e “destruiu” os donos da casa por cinco bolas a uma, isso apesar de até ter entrado em desvantagem.
Quis o destino que, nesse ciclo de apuramento para a Eurocopa 2020, Dinamarca e República da Irlanda tornassem a estar frente a frente. No grupo D de apuramento, a Suíça terminou na liderança com 17 pontos, ao passo que a Dinamarca foi segunda com 16 e em terceiro ficou… a República da Irlanda, a três pontos dos daneses. Desta feita, dos dois embates entre estas seleções terminaram ambos empatados a um gol.
Hjulmand é o homem do leme
Não, o selecionador dinamarquês já não é Morten Olsen. É certo que já não o é desde 2015 e que a Dinamarca já esteve na Copa do Mundo de 2018 sob outra orientação, mas os mais de 15 anos de ligação (julho de 2000 – novembro de 2015) fizeram de Morten Olsen uma figura incontornável dessa seleção. Atualmente, Kasper Hjulmand é o técnico responsável por guiar a Dinamarca nesta fase final e, aos dias de hoje, é provavelmente um “ilustre desconhecido” para o adepto comum, até porque conta apenas com uma passagem fugaz por uma liga “top 5” e assumiu recentemente os destinos da principal seleção da Dinamarca.
A carreira de treinador de Kasper Hjulmand começou na época 2006/07 ao serviço do Lyngby, transferindo-se posteriormente para o Nordsjaelland para desempenhar funções de treinador adjunto. Ao serviço dos “Tigres”, Hjulmand acabaria por se tornar treinador principal e conseguiria mesmo conquistar a Superliga dinamarquesa, despertando as atenções dos alemães no Mainz. Após a saída de Thomas Tuchel do Mainz com destino a Dortmund, Hjulmand foi escolhido como sucessor do alemão, mas a passagem pelo clube durou apenas 24 desafios, regressando então ao Nordsjaelland para cumprir as épocas 2015/16, 2016/17 e 2018/19. Em 2020 assumiu a principal seleção danesa e, até então, orientou a equipa nas eliminatórias para a Copa do Mundo 2022 e em encontros da Liga das Nações. A amostra ainda é bastante reduzida, mas Hjulmand já guiou a equipa a resultados interessantes, entre os quais o triunfo em Wembley diante de Inglaterra (0-1) – os “Three Lions” cedo se viram reduzidos a dez unidades nessa ocasião. Em março deste ano, os daneses somaram os seus três primeiros jogos nas eliminatórias para a Copa do Mundo 2022 por vitórias ao baterem Israel (0-2), Moldávia (8-0) e Dinamarca (0-4). Um início, no mínimo, promissor.
Considerando que Hjulmand chegou recentemente ao cargo e ainda tem pouco tempo de trabalho com os seus jogadores, é normal que esteja ainda tenha muita coisa para definir. Atendendo ao que apresentou nos testes de maior exigência, entre os quais os duelos com Inglaterra e Bélgica, diríamos que Hjulmand privilegiará um sistema que “solte” Christian Eriksen, campeão pelo Inter de Milão que é claramente o elemento diferenciador desta seleção e que, depois de tempos conturbados em Londres, parece voltar a ser feliz apesar do avançar da idade, podendo dar um contributo essencial à equipa nessa Eurocopa 2020. O talento que a equipe reúne não se esgota nas botas do camisa 10 que quer desempenhar a função condizente com o que traz no dorsal. Para poder soltar Eriksen e o aproximar da zona de decisão, fazendo valer sua meia distância bem como a capacidade de jogar entre linhas, oferecendo soluções dentro e fora, Hjulmand deverá colocar Hojbjerg e Delaney como “guarda costas” de Eriksen. Hojbjerg tem evoluído desde a chegada no Tottenham, ao passo que Delaney vem conseguindo ser opção regular no Borussia Dortmund de algum tempo a esta parte. Nas alas, Poulsen do RB Leipzig e Braithwaite do Barcelona deverão ser os titulares, com o rapidíssimo e intratável Pione Sisto a poder também ele ser uma opção. Para o centro do ataque, Jonas Wind, Kasper Dolberg e Andreas Cornelius serão as opções. O quarteto mais recuado deverá ser composto por Maehle, Christensen, Kjaer e Wass, frente a Kasper Schmeichel, herdeiro do outrora campeão da Europa Peter Schmeichel e um dos rostos desta seleção bem como do “Conto de Fadas” protagonizado pelo Leicester há alguns anos.
Dinamarca na Eurocopa 2020
A seleção da Dinamarca foi sorteada no grupo B dessa Eurocopa 2020 e vai ter que medir forças com as congéneres da Bélgica, da Finlândia e da Rússia. A Bélgica é claramente candidata a dominar a chave, ao passo que a Rússia segue em um segundo nível em termos de favoritismo, com essa equipe da Dinamarca “à perna”. A estreante Finlândia é a formação com menos chances nessa contenda e diríamos que os dinamarqueses têm chances para acreditar que o acesso à fase seguinte é possível, já que mais não seja enquanto uma das melhores terceiras colocadas da prova. Há um outro fator que nos parece que pode muito bem ser determinante a favor dos dinamarqueses nesse grupo B: é que disputarão seus três jogos no Parken, em Copenhaga, sua zona de conforto. Os daneses têm motivos para crer que é possível estar na fase a eliminar dessa Eurocopa 2020 e as Casas de Apostas estão tendo em conta o fato de a equipe se preparar para atuar em casa na hora de avaliarem suas chances.
Recordes da Dinamarca na Eurocopa
O momento de maior brilhantismo na história do futebol danês corresponde, claro, ao sucesso na Eurocopa de 1992 de uma forma totalmente inesperado. Ao todo, a Dinamarca já marcou presença em fases finais de uma Eurocopa por oito vezes. O desempenho mais auspiciosa da nação do norte da Europa nos últimos anos correspondeu à chegada nas quartas na Eurocopa, em Portugal. Esse pode ser um objetivo tangível para uma seleção que, pela negativa, apresenta o facto de ser a única que perdeu os três jogos da fase de grupos em duas fases finais distintas, nomeadamente 1988 e 2000.
O gol da Dinamarca está hoje à guarda de Peter Schmeichel, herdeiro do lendário Peter Schmeichel, goleiro com mais jogos pela Dinamarca em fases finais de uma Eurocopa (13). No que diz respeito a número de gols, Dahl Tomasson, Brian Laurdrup e Frank Arnesen são líderes, com três gols cada.
A estreia da equipe danesa na primeira fase da Eurocopa 2020 está agendada para o dia 12 de junho de 2021, frente à Finlândia. Antes disso, a Dinamarca vai enfrentar a Alemanha (2 de junho) e a Bósnia (6 de junho). Pode encontrar os melhores palpites de futebol para os jogos da Dinamarca no Euro 2020 no nosso portal.
Boas apostas!