O goleiro Carlos Vitor do Londrina (time de futebol do Paraná) é considerado um dos homens de confiança do técnico Cláudio Tencati e um dos jogadores mais queridos pela torcida. O carioca foi revelado pelo Vitória da Bahia, e jogou também pela Ponte Preta (SP), Joinville (SC), Portuguesa (SP), Atlético Goianiense (GO), Bragantino (SP), ABC (RN), Arapongas (PR), São José (RS) e Novo Hamburgo (RS). Vitor foi apresentado ao Londrina em dezembro de 2013, tendo a difícil missão de substituir Danilo, um ídolo da torcida. Mostrando ser um goleiro tão bom quando Danilo, teve uma ótima campanha pelo Londrina. O goleiro teve uma importante participação no título estadual de 2014, além de dois acessos seguidos, levando o Londrina da quarta divisão para a Série B brasileira.

O goleiro Carlos Vitor do Londrina

O goleiro Carlos Vitor do Londrina

Agora com o time na segunda divisão, em que a maioria dos jogos ocorre nas sextas-feiras e sábados, o goleiro Vitor não poderia disputar os jogos por conta de sua religião. A doutrina dos adventistas diz que os fieis devem fazer uma vigília durante o pôr-do-Sol da sexta-feira até o fim do dia de sábado, e que neste período, deveriam descansar e orar, não podendo assim, trabalhar ou fazer outras atividades. Tudo isso atrapalhou a renovação de contrato com o Londrina e também uma possível ida ao Chapecoense.

Por ter tido um ótimo desempenho no período em que jogou pelo time paranaense, o goleiro despertou o interesse da Chapecoense, time catarinense da Séria A do Brasileirão. Mesmo com essa novidade, Vitor jogará pelo Londrina até o fim do Campeonato Paranaense deste ano, em maio, quando seu contrato terminará. Até lá, Malucelli informa que ele deve continuar no time, já que poucos jogos serão aos sábados. A permanência do goleiro para a sequência de 2016 ainda será vista pela comissão técnica.

Segundo Vitor, ele já seguia a igreja adventista há quatro anos, mas no fim de 2015 resolveu vivenciar a fé com maior ênfase. “Passei a dar ênfase ao estudo da Biblia e decidi reafirmar essa crença, me batizando.” Apesar disso, o goleiro diz não pensar em parar com o futebol. “Na série A, a maioria dos jogos ocorre aos domingos e nas noites de sábado. Então eu poderia jogar. Estou na melhor fase da minha carreira. […] Não penso em parar.”

Outros casos envolvendo adventistas

Carlos Roa, ex-goleiro titular da seleção Argentina.

Carlos Roa, ex-goleiro titular da seleção Argentina.

Apesar de ser algo inusitado, a situação do goleiro Vitor não é uma novidade no mundo do futebol. Vários clubes em vários países já tiveram que lidar com coisas bem parecidas.

Outros atletas adventistas também viveram casos semelhantes ao de Vítor. Em 2015, o zagueiro Vinícius (foto), do Vitória-BA, viveu um dilema. Com o time baiano disputando a Série B, precisou jogar às sextas-feiras à noite e aos sábados, desrespeitando o que prega sua religião. “Eu fico chateado. Sei que estou pecando por não estar guardando o sábado. Mas o pai da minha namorada é pastor, eu converso com ele e ele diz para ter paciência, não ficar apavorado”, disse em entrevista ao portal UOL.

Um exemplo bem conhecido é do goleiro Carlos Roa, titular da Argentina e agora treinador de goleiros do River Plate, que teve um bom desempenho na Copa do Mundo de 1998 e também era fiel da igreja Adventista do Sétimo Dia. Ele teve destaque na temporada pelo Mallorca, mas recusou uma proposta do Manchester United por conta da sua religião. Nove meses depois, Roa voltou ao Mallorca.

Casos envolvendo situações religiosas no futebol

Versão original do escudo, com a pequena cruz no topo.

Versão original do escudo, com a pequena cruz no topo.

O próprio gigante Real Madrid, Em 2014, alterou um de seus maiores símbolos para agradar um patrocinador (Banco Nacional de Abu Dabi) NBAD, em inglês, dos Emirados Árabes Unidos. Para que os consumidores do país muçulmano não ficassem ofendidos, o clube espanhol retirou a cruz cristã que ficava acima de seu escudo.

O clássico entre os escoceses Celtic e Rangers , possui uma rivalidade que  já dura mais de um século, e não apenas nos gramados. Existe um choque de diferenças culturais e religiosas entre os times. O Celtic foi criado entre irlandeses católicos e defendeu a independência escocesa no referendo de 2014. O Rangers tem origem protestante e exalta as raízes britânicas. O clássico já rendeu brigas generalizadas dentro e fora dos campos.

Dudu Aouate, no futebol espanhol, que foi criticado por políticos israelenses por ter atuado durante o Yom Kippur (data mais importante na religião judaica, chamado também de dia do perdão) e quase teve ameaçada a sua presença na seleção de Israel, seu país, em 2006.  Por conta de um patrocinador, Papiss Cissé (senegalês) quase não jogou pelo Newcastle, mas o motivo foi que a empresa em questão mantinha relações com um arcebispo anglicano que havia criticado os mulçumanos.

Falando do Islã, a religião é responsável pela relação delicada com o futebol na Turquia. Grande parte dos profissionais que trabalham na Super Liga (principal liga turca) seguem a religião de Maomé. Durante o Ramadã, nono mês do ano do calendário islâmico, período em que todos os fieis devem jejuar de diversas coisas, inclusive comida e bebida, começando no nascer do sol até o pôr-do-sol, e isso acaba gerando conflitos até hoje entre pessoas que são a favor e contra a prática por conta da saúde dos atletas.

Outros dois casos, mas dessa vez com motivos “sonhadores”, são de Lee Young Pyo, sul-coreano que na época tinha acabado de se converter para o cristianismo, e que se recusou a deixa o time inglês Tottenham por ter tido um sonho em que “Deus estava dizendo para não se transferir para a Roma”. E o zagueiro Taribo West, que na época, já tinha disputado duas Copas do Mundo pela Nigéria. Ele chegou a dizer que teria sonhado que deveria jogar a próxima partida, quando atuava pela Internazionale. O treinador da equipe na época, Marcello Lippi, comentou sobre o assunto, “Isso é estranho porque Ele não me disse nada” e acabou deixando West no banco. O ex-jogador agora é um pastor de uma igreja neopentecostal em Milão.

Apesar desses casos, o futebol continua tentando não interferir na religião dos atletas, principalmente no Brasil, por se tratar de um país laico.

Boas Apostas!