Há muito que os rumores se ouviam, mas só a oficialização, levada a cabo nesse domingo (18 de abril), fez “tremer” o mundo do futebol. A situação veio abalar os mais sólidos pilares do futebol e já teve reações por parte da UEFA, da FIFA e até de alguns líderes políticos. Fique por dentro!

O que é a Superliga Europeia?

A Superliga Europeia é uma prova de futebol que surge como oposição à Liga dos Campeões, mas com um modelo competitivo distinto. 12 clubes se uniram para criar a competição: os italianos Juventus, AC Milan e Inter de Milão; os espanhóis Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid e os ingleses Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United, Manchester City e Tottenham. Ao contráro que vem acontecendo atualmente na Liga dos Campeões, as 20 equipes que estarão a concurso serão divididas em duas chaves de dez, com jogos como mandante e visitante, em um sistema de todos contra todos. Concluída a primeira fase, os três primeiros colocados de cada chave seguirão para as quartas, ao passo que as quatro equipes que terminarem no quarto e quinto lugar das chaves disputarão um “play-off”com ida e volta para determinar quem se junta aos conjuntos apurados. A partir daí, o modelo se assemelha ao da Liga dos Campeões: as quartas são disputadas com ida e colta, ao passo que a final acontece a um só jogo e em campo neutro.

Florentino Pérez, presidente do Real Madrid

Foto: “Soccrates Images/Getty Images”

Quando se jogará a Superliga Europeia?

No comunicado que oficializa a criação da competição, não tem uma data estipulada para seu arranque. A imprensa internacional avança que a intenção dos fundadores passa por iniciar a prova em agosto, mas a realidade é que, por essa altura, as duvidas  são mais que as certezas a vários níveis. Como tal, o calendário da competição ainda não é conhecido.

Para já, 12 clubes deram a “cara” como fundadores, lote ao qual se deverão juntar pelo menos mais três nessa condição. E por que é que esse estatuto pode ter tanta importância? É que, de acordo com o regulamento da prova, os emblemas fundadores estarão sempre apurados para a fase final da competição. Quanto aos outros cinco clubes que a vão disputador, o apuramento será feito com base no rendimento da temporada anterior.

Nas primeiras informações avançadas, é possível perceber que os clubes que fundaram a competição pretendem jogar a meio da semana por forma a poderem continuar a competir em suas ligas domésticas, tuteladas pela UEFA. Atendendo à oposição do organismo que tutela o futebol europeu, estamos perante mais uma “zona cinzenta” associada a essa competição.

Quem organiza a Superliga Europeia?

Sem uma entidade por trás enquanto organizadora – ao contrário do que acontece, por exemplo, com a Liga dos Campeões da UEFA -, a Superliga Europeia será organizada e gerida por uma direção agora criada pelas mais altas figuras de alguns dos clubes fundadores. Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, é a “figura máxima” da competição, auxiliado por Andrea Agnelli, líde da Juventus e “vice” desta direção da Superliga Europeia, assim como Joel Glazer, empresário estadounidense e atual dono e presidente do Manchester United. Em suma, essa é uma prova independente, gerida por uma direção composta por alguns dos principais rostos do futebol europeu.

Quais são os prémios da Superliga Europeia?

No comunicado emitido pelos 12 clubes fundadores se pode ler que essa nova prova “proporcionará um crescimento econômico significativamente superior, o que permitirá apoiar o futebol europeu”. Assim, segundo a mesma nota, durante o período de compromisso dos clubes, é expetável que os pagamentos de solidariedade, significativamente mais elevados que os da Liga dos Campeões, “excedam os 10 mil milhões de euros”. De resto, os clubes fundadores receberão, coletivamente, “um pagamento único de 3.5 mil milhões de euros dedicado exclusivamente à realização de planos de investimento em infraestruturas e à compensação do impacto da COVID-19”.

UEFA e FIFA contra Superliga Europeia

Os 12 clubes fundadores que assinam o comunicado que anuncia a realização da Superliga Europeia revelam a intenção de se “manterem em conversações com FIFA e UEFA por forma a encontrarem as melhores soluções para a Superliga”. Ainda antes do anuncio oficial do projeto da Superliga Europeia, a UEFA já tinha reagido juntamente com as federações Inglesa, Espanhola e Italiana, repudiando a pretensa criação da competição e assegurando mesmo enveredar por via judicial em um comunicado em que cataloga a criação da prova como um “projeto cínico”.  “Iremos considerar todas as medidas ao nosso alcance, a todos os níveis, tanto judiciais como desportivas, no sentido de evitar que tal venha a acontecer (…) Como foi dito anteriormente pela FIFA e seis Federações, os clubes em causa serão banidos de qualquer outra competição doméstica, europeia ou mundial, e os seus jogadores poderão ser impedidos de representar as respetivas seleções”, pode se ler no comunicado lançado.

Aleksei Ceferin sem “papas na língua” contra  Superliga Europeia

Entretanto, nessa segunda-feira (19), a UEFA voltou a reagir após a oficialização da competição. Para além de ter anunciado um novo modelo competitivo para as provas europeias que vai vigorar a partir de 2024, Aleksei Ceferin, presidente da UEFA, dedicou bastante tempo da sua comunicação a essa Superliga Europeia, considerando que a prova é “contra tudo o que o futebol deve ser”. Em uma coletiva de imprensa marcada por duras críticas ao projeto, o líder do organismo que tutela o futebol europeu deixou algumas palavras fortes, considerando que a criação da Superliga Europeia é uma “proposta de alguns clubes na Europa que são movidos pela ganância” e reiterando que os jogadores que disputarem a prova poderão ser proibidos de participar em competições internacionais de seleções como o Campeonato do Mundo ou o Campeonato da Europa. Além disso, Ceferin afiançou que a Liga dos Campeões se continuará a disputar mesmo sem os 12 clubes fundadores da Superliga Europeia e e agradeceu ainda aos “clubes da França e da Alemanha que resistiram à tentação”.

Abaixo ficam algumas das “frases fortes” que marcaram a intervenção de Ceferin:

– «(…) a minha opinião é que devem ser afastados de qualquer competição o mais depressa possível. Vi muitas coisas na vida, fui advogado criminal durante 20 anos, mas nunca vi pessoas assim.

Ed Woodward [Manchester United] ligou-me na quinta-feira. Disse-me que concordava com as mudanças, que estava muito feliz.

Agnelli [Juventus e vice-presidente da Superliga Europeia] é a maior desilusão. Não quero ser pessoal, mas nunca vi uma pessoa mentir tantas vezes como ele.

Falei com ele no sábado, disse-me que eram apenas rumores, que me ligava daí a uma hora e desligou. Vi muitas coisas na minha vida, mas nunca nada assim. A ganância é tão forte que os valores humanos evaporam-se. Tudo isto é apenas sobre ganância, egoísmo e narcisismo de alguns.

Enquanto advogado conheci pessoas muito estranhas. No futebol conheci pessoas ainda mais estranhas e mentirosas. Mas também conheci grandes pessoas, em quem confio.

Confio nos clubes alemães e franceses, confio na minha equipa, confio nas federações. Só uma pequena parte é levada pela ganância.

Há CEO’s que mudam de clubes como quem muda de camisa. Alguns donos não contam golos [não querem saber dos resultados], só o dinheiro importa»

«A Superliga é sobre o dinheiro dos 12 [clubes fundadores], não lhes quero chamar os ‘dirty 12’.

Comissão Europeia, Boris Johnson e Macron contra Superliga Europeia

A oficialização da Liga Europeia já suscitou reações na esfera política. Margaritis Schinas, comissário europeu, afirmou que a União Europeia está contra o projeto da Superliga Europeia, dado que a União “deve defender um modelo europeu de desporto baseado na diversidade e na inclusão”, rejeitando que o modelo europeu de desporto “seja reservado aos poucos clubes ricos e poderosos”. Em Inglaterra, Boris Johnson, primeiro ministro britânico, assegurou que procurará saber “tudo o que pode fazer com as autoridades do futebol para garantir que isto (competição) não vá para frente, reagindo ainda na sua página na rede social Twitter. O presidente francês também se insurgiu contra a criação da competição e deu os parabéns ao PSG pela não adesão à prova. Os sonhos hegemônicos de uma oligarquia terão por consequência o desaparecimento de um sistema europeu que permitiu um desenvolvimento sem precedentes do futebol no continente”, lê-se em nota oficial.

Torcedores já se manifestam contra Superliga Europeia

A notícia não caiu bem junto dos torcedores e as primeiras manifestações já se fazem sentir. De Inglaterra chegam imagens que marcam a reação negativa à realização da competição, com vários torcedores do Liverpool a acorrerem a Anfield para colocarem tarjas em jeito de manifestação contra o envolvimento do clube na competição. Também em Old Trafford se verificaram reações idênticas, com um grupo de jovens adeptos a exibir uma tarja com a frase “criado por pobres, roubado pelos ricos”.

Boas apostas!